E agora? #3

by - setembro 08, 2017

Chegou o dia da consulta.
Ouch
Dormi bem dentro do possivel , acordei bem e cheia de força para ouvir o que tinham para me dizer.
Não quero andar na incerteza, quero certezas para saber com o que lido e como terei de me preparar psicologicamente (a mim e aos meus) para a batalha que aí vem.

Cheguei antes da hora marcada para ter tempo para respirar, mentalizar e dizer umas parvoíces para sossegar os meus pais que me acompanhavam.
Sim, sempre eles, eles sempre foram o meu pilar e nesta fase não será excepção.

O facto de eu dizer que estava cheia de força, não significa que não estivesse nervosa, e estava... bastante.

Entrei no "elevador 14" com a indicação do 3º piso, mas assim que o elevador parou no 2º, levei logo 2 pares de estalos.
Entra um rapaz novo (aproximadamente 20 e picos), de óculos de sol, carequinha, bastante magro e amparado em braços por um homem mais velho, e outro novo.
Baixei a cabeça, e prendi o olhar no chão, que triste pensei eu.
Durante o tempo que ali estive, não mais vi tal rapaz, mas vai ficar para sempre na minha memória.

Entrei na sala de espera, e olhei em meu redor, não aguentei, esperei ao pé das escadas e só voltei a entrar quando fui chamada.
Fui atendida por uma senhora aproximadamente na faixa dos 40/50, delicada, alegre e muito humana.
Foi bastante paciente comigo, quando me injectou (no mínimo) uma dezena de informação:

- Entrada de consulta
- Saída de consulta
- Cartão Oncológico
- Documentos de isenção
- Consulta piso inferior
- Folha A4 com etiquetas de processo
- Vai aqui ali além ...
- etc etc etc

Continuava anestesiada com tanta informação, e muito confusa com tanto para fazer.
A tal senhora acompanhou-me ao piso inferior, onde será dada a minha primeira consulta, e explicou-me como haveria de estar atenta á respectiva chamada.
Fez-me um carinho e disse que era bonita, para sorrir, soube-me bem.

Finalmente a tão aguardada senha apareceu no ecrã, e rapidamente me levantei e fiz-me acompanhar dos meus exames, escusado será dizer que também a minha mãe me acompanhou.

- Olá Helena, o meu nome é Daniela, vamos conversar um bocadinho?
- Olá Dra, como está? Vamos sim.

Fez-me um breve questionário,viu todos os exames, mas o que ela queria mesmo era ver a cintigrafia.

Naquele momento gelei, eu sabia que aquele exame ia dizer que sim, ou que não. 
A médica torceu o nariz, olhei para a minha mãe e ela para mim, respiramos fundo, quase em sintonia.

- Helena, temos aqui metástases ósseas secundárias, o que significa que temos de procurar a origem, neste caso o primário que está a provocar isto.
Vou pedir internamente alguns exames com urgência para avaliarmos e ver se descobrimos o mais rapidamente possivel para que possamos discutir os melhores tratamentos para o seu caso.

A minha mãe interrompeu:

- Dra isso significa que a minha filha tem cancro? 

- Infelizmente sim, não é uma noticia agradável, mas vamos fazer com que tudo seja tratado da melhor forma possivel, o mais rápido possivel.

- Porque não a mim (enquanto dizia isto, as lágrimas da minha querida mãe caíram fortemente, o mais curioso, e que a própria médica ficou de lágrimas nos olhos, o que me causou ternura e provou logo ali o quão humana era).

Não verti uma única lágrima, em tempo algum me descontrolei. Fiz as perguntas que podia dentro da pouca informação que tinha, e a médica foi mais uma vez extraordinária.

Perguntei eu:
- Dra, pela forma que vê a cintigrafia, pelos exames que tem em seu poder, e se realmente for da mama como estamos a pensar, diga-me por favor, em grau estará de momento?
- Olhe Helena, não quero induzi-la em erro, mas provavelmente num grau 4, mas como lhe disse, teremos de fazer mais exames. Aproveita e vai já já fazer estes exames de sangue aqui mesmo no hospital.

O único sentimento que tinha naquele preciso momento era desilusão.
Grau 4, como é possivel?
Neste dia em concreto, não poderia estar mais desiludida.
Saímos, com certezas (aquilo que eu mais queria), mas angustiados pelo desconhecido.

O post já vai longo, em breve contarei os dias que se seguiram, e o quanto foi e está a ser importante rodear-me de pessoas do bem, pessoas que me amam, que choram comigo e que me dão força.

Até já!




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2 comentários

  1. Muita força querida!!! É a minha primeira visita aqui no blog e fiquei com o coração nas mãos
    beijinhos, Akira do Viver num t0

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    Respostas
    1. Obrigada pelo carinho minha linda!
      Ficar no chão não é opção! Vamos á luta :)
      beijinhos

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